quinta-feira, 4 de junho de 2009

Achei hj um texto q tinha escrito a muito tempo!


Que Deus o perdoe ou o diabo o carregue. Mas ao ver do Tsunami, ele só conseguia pensar naquela fixação de adolescência: O rio de cerveja. Que passou derrubando árvores, pensamentos e o deixou anestesiado, alienado e tão feliz quanto poderia ser. Uma vez mergulhado no rio, era como estar de volta ao útero materno ou então deveria ser, afinal ninguém se lembra como era quando esteve lá (mas a imagem é boa, né?). Pois bem, naqueles tempos não havia outro roteiro: sexta e sábado eram dias sem sentido se não seguissem num virar de copos incessante, rumo ao desconhecido. Um Show qualquer, um papo com os amigos no D.I, um casamento no Plano Piloto, um churrasco em Taguá, tudo virava leito para o rio correr, arrastando homens entre outros animais e manchando uma reputação ainda não de todo formada. Mas valia a pena, tanto que não deixou razões para arrependimento. Ainda não havia para ele e nada acontecia em seu coração. Quer dizer, nada que não pudesse ser adiado para a idade adulta, quando ele deixaria de ser inconseqüente por opção própria. Porque havia muito a fazer ali, no que restava daqueles 19 anos.

Se beber, não dirija. Ele levou ao pé da letra o conselho: nunca aprendeu a dirigir. Vagava pelas madrugadas da cidade perigosa (ele nunca soube) de ônibus, deixando a janela aberta para o vento entrar e embalar seu entorpecimento. Ninguém iria incomoda-lo na sua viagem. Deitava na cama, o teto rodava e ele achava que as portas da percepção tinham sido abertas – pensamentos incríveis o tomavam e de repente ele entendia tudo, tudo mesmo: todo o cosmo passava pelo seu quarto e ele não se via mais como poeira estelar. Mas ao acordar voltava a culpa, a bordo da ressaca. De intensidades variáveis, mas sempre a espetar seu cérebro dolorosamente. O jeito para não se matar era sair andando, pensando na vida, refazendo planos, jurando nunca mais perder o controle nesse seu processo maluco de autoconhecimento. Matara neurônios naquela noite, um dia eles poderiam fazer falta. Se fosse domingo seria pior, desde pequeno, ao ouvir o tema dos trapalhões, sentia-se melancólico. O fim de semana acabara e ele nem tinha feito o dever de casa. Pois até hoje, quando o sol se põe no domingo, ele fica amargo achando que ainda não fez o dever de casa da sua vida.

Mas a semana passa. E chega a sexta-feira de novo e tudo recomeça. A única certeza era a cerveja. Meninas, ressaca, boa música, bom papo, micos diversos, paradeiro, tudo era incerto. No rastro do tsunami, ninguém sabia o que poderia acontecer. Hoje em dia, ele não tem mais 19 anos e não sabe quantos neurônios perdeu – os que restaram, pelo menos, dão para o gasto. Viu Amigos que não se deram bem com a mesma trip e hj renegam tudo, amigos que entraram em trips mais pesadas, amigos caretas ainda e amigos que, como ele, ainda se arriscam a uns mergulhos de vez em quando. A marca de suas desventuras é bem visível: uma barriga que ele jura exterminar abdicando de tudo, menos da cerveja. Ele vive numa época diferente em que, entre os homens de sua idade, virou uma obsessão apagar as marcas da vida. Alguns têm abdomens talhados a lipo, outros passam cremes no rosto e há os que se especializavam em sair com meninas que têm a metade da sua idade. Eles são muito maduros e portanto talvez não contem a elas que um dia o rio os tragou e eles foram muito felizes. Hoje fazem caras de sabichões e preferem tomar vinho. Em goles curtos, coreografados.

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